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SOBRE

O grupo nasceu em 2012, quando os irmãos João Paulo e Matheus Nascimento reuniram viola caipira e violão às composições que Marília Marra vinha produzindo em voz e violão desde 2007. A base das composições apresenta uma sonoridade própria de experimentação do violão enquanto instrumento, caracterizada pela ressonância de cordas soltas e desenhos em bloco, mais do que por um raciocínio composicional formal. Já os arranjos em viola caipira complexificam a sonoridade a partir da rica experiência do músico João Paulo Nascimento, bem como do violão de Matheus Nascimento, resultando num conjunto de cordas que ressoam de forma densa. As letras das canções trazem imagens poéticas que versam sobre motivos subjetivos da incessante busca pelo desvendar de um mistério, traduzido no sentido de Além-Mar.
Marília Marra e João Paulo se conheceram no Conservatório de Música de Pouso Alegre – MG, ainda nos anos 90, quando foram alunos de violão da professora Maria de La Penha. João Paulo seguiu a carreira de músico, formando-se em Composição e Regência na Unesp, em 2005, concluindo seu mestrado na área de musicologia em 2008. Marília formou-se em Psicologia, continuando suas experimentações no violão na vida de além-mar. Matheus Nascimento estudou na ETEC de Artes de São Paulo e atualmente é aluno da EMESP Tom Jobim.
No ano de 2015 Cantigas de Além-Mar iniciou o processo de gravação de suas músicas que darão origem ao primeiro CD do grupo.

Origens e Sentidos do “Além-Mar”

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O encanto do mundo foi se desmanchando, no caminho para a modernidade. O processo do esclarecimento, o desenvolvimento das ciências, soterrou os mitos mágicos como fundamento do Humano. Se por um lado, esse processo proporcionou desenvolvimentos técnicos e civilizatórios para a vida humana, por outro, gerou a hipertrofia de uma razão instrumental, que produz a cura de muitos males, produzindo, no entanto, outros sem cura. Essa razão é acompanhada da expectativa de que o desenvolvimento da ciência colocaria fim ao imponderável e ao sofrimento humano, ao tornar os fenômenos humanos completamente explicáveis e, no limite, previsíveis.

Esse processo que construiu o que comumente nomeamos de “pensamento ocidental”, continua seu desenvolvimento, não sem, entretanto, enfrentar suas contradições. A psicanálise, por exemplo, pode ser reconhecida como uma farpa nesse processo de esclarecimento. Se por um lado, pretende promover o desenvolvimento da consciência de si do homem, por outro lado, reconhece que as ações humanas são sobredeterminadas pelo inconsciente – esse grande mar nunca totalmente explorável – além.

A imagem “Além-Mar” pretende ilustrar essa dimensão. No tempo em que havia um mundo desconhecido a ser desbravado, além-mar era o lugar de perigosos monstros, limite do conhecimento possível. Se a coragem dos navegadores atravessou esse limite, descobrindo e mapeando o mundo inteiro, haverá sentido em falarmos hoje de além-mar? Esgotado o desconhecido geográfico do mundo, desencantados os monstros e serpentes periculosos, onde poderemos cultivar o poder da imaginação e da fantasia que dão sentido aos nossos medos e desejos mais profundos?

“Além-Mar”, como terreno do inconsciente, como “terras sem ter lugar” nomeia o reino do desconhecido, onde moram nossos inexplicáveis, de onde vêm nossos prazeres e dores, e também, as possibilidades de dar sentido a eles. Cantigas de Além-Mar remetem a esses sentidos, simbolizando experiências de vida particulares a quem as canta. Pode ser que as imagens pescadas nesse além-mar singular articulem outros sentidos de outros vividos que no fim, sempre remetem a algo humano e, portanto compartilhável.

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